Dungeon Capturer ♦ Parte 1 - Dantalian ♦ Missão para Takane Shion, Arya Starlust e Lyon Walker

- É claro que não, minha querida. Pense bem no seu futuro, vai ser melhor para todo mundo!

- O melhor para todo mundo!? - eu franzia os meus lábios no que parecia um sorriso, mostrando presas sombrias. O ódio e a frieza eram tão evidentes na minha voz que o ambiente parecia ficar mais gelado a cada instante. Eu tremia de raiva - Egil... não me faça rir. O que um estupido como você que viveu a vida inteira nessa prisão sabe o que é "o melhor para todo mundo"? VOCÊ NÃO PENSA QUE EU POSSO AMAR ALGUÉM? QUE YUKIO SÓ ESTEJA TE USANDO?

O miasma ficava cada vez mais obscuro. As sombras pareciam mais densas.
No piso de mármore, havia a marca de um pé.

- Pense bem! Esse casamento vai fortalecer a ligação entre a família Pheles e a família Enomoto, essas duas serão as famílias mais ricas e poderosas do mundo! Pense nisso!

- CALA A BOCA! - a voz de Takane ardeu com a altura que ela havia dito aquilo. Se forçando a controlar a si mesma e sua voz, ela tremia, irada - Eu não sou uma Enomoto! E me recuso ser uma Pheles!

Tudo aconteceu em um instante. Lyon atacou Egil e um tiro ressoou pela sala.
A garota empunhava uma carabina e seus olhos ardiam de raiva. Isso por si só seria muito incomum, considerando que a arma havia surgido de lugar nenhum, mas também havia o fato que ela estava cercada das espingardas curtas, com o cabo parcialmente enfiado no chão.

Ela dançava com elas, as trocando rapidamente assim que ficavam sem munição. Se os seus olhos não fossem os de uma assassina e as armas não estivessem ali, seria um balé lindo de se assistir.

- Saia dai, imbecil! - ela gritou para Lyon.

Foi naquele momento que o mordomo entrou em cena. Takane deu um riso psicopata, abafado pelo som constante dos tiros. Então era aquele o outro cara que criava armas, huh?
Ele encostou de leve no ombro de seu mestre e se pós na frente de Egil e ela deixou escapar um "tch" mal-humorado dos lábios antes de continuar a atirar.

Então, duas coisas aconteceram ao mesmo tempo.
A primeira foi Arion cair no chão e começar a ter espasmos. Um cheiro de queimado bem fraco atingiu o nariz sensível da menina e ela fez uma careta, sem conseguir se segurar. Do corpo que se mexia conforme as convulsões, vinha um estalido, como o de eletricidade.

A segunda foi a voz.
- Para onde vocês estão olhando? - perguntou Haruka, a sua voz com a entonação infantil costumeira - A batalha de verdade acontece aqui.

Em meio ao seu sorriso, havia algum traço de sadismo. A sua postura era desafiadora e os seus olhos eram frios e calculistas.
O que se passava na mente do garoto?
Bem, ele realmente só se importava com a vida de Takane ali.

A garota erguia uma das carabinas hesitante. Haruka o olhou e ela parou.

- Quietos - ele pediu, quaisquer traços de inocência ou de infantilidade sumindo de sua voz, assim como o seu sorriso. A sua voz estava dominada de uma frieza e desprezo que pareciam quase um sacrilégio, vindos de uma pessoa como ele - Quem vai matar esse bastardo sou eu.

Egil se virou e os mesmos espasmos que percorriam o corpo de Arion o atingiram. Os cantos da boca do guardião se dobraram ligeiramente, um brilho sádico no olhar cinzento com sombras douradas do menino.

- Ah, sim. Você percebeu que não pode usar a sua habilidade - ele deu ombros. Todos os outros na sala estavam paralisados de surpresa para se mover - Na hora que estava descendo as escadas, toquei em Arion-san. Desde então, ele tem estado em meu controle. Quando ele encostou em você, foi só uma questão rápida passar a controlar a eletricidade em você também.

- Você está brincando comigo, certo? - Takane deu um sorriso indecifrável. Era obvio que ela se segurava para não rir - "A habilidade de vencer uma batalha sem sequer precisar erguer um dedo"... era isso que estavam falando? Finalmente, seu apelido faz sentido!

- Bem, nossos movimentos nada mais são que vários pulsos elétricos emitidos pelo corpo - ele deu ombros, como se estivessem tendo uma conversa normal - O conhecimento, assim como a informação, são coisas vivas. Elas estão sempre mudando. Eu não serei vencido por velhos que as únicas coisas que sabem sobre o mundo vieram de livros encardidos feitos para exibição nas estantes. Egil, agora aqui vai uma ordem para o seu cérebro imundo. Quando você disse que essa garota ia se casar, declarou guerra contra o clã Kokonose ♪♫

Ah.
Aquele sadismo...
Haruka estava sério.
Aquilo era ruim, muito ruim.
- Não é bom ficar se gabando das suas habilidades - ele continuou, enquanto o homem lentamente levantava a mão direita e a apoiava na cabeça - Outros podem usa-las contra você. Destrua o seu cérebro e morra, por favor.

Alguém gritou.
Egil caiu no chão e ficou imóvel, assim como Ariom.

Mesmo assim, nenhuma poça de sangue se formou.
A única totalmente bem com a experiencia era Takane.

- Haruka estupido! O que você acabou de fazer?

- Mas eu sou o seu Haruka estupido e...! Eu? Ahn... Sinceramente, eu não consigo fazer isso - ele disse, com um sorriso. A garota riu também e atravessou a sala, dando um soco no ombro do menino. Ele lhe entregou a sua capa e a sua bolsa - Isso vai durar algumas horas. Vou colocar alguns feitiços de aprisionamento, mas temos mais alguma coisa a tratar...?

Ele olhou para Lyon. Takane sorriu, travessa.

- Não - ela afirmou. O garoto deu ombros e começou a cuidar dos dois homens desmaiados no chão, garantindo a fuga deles - Lyon me odeia, não é? Enfim, vamos nos decidir agora... estamos indo para uma Dungeon. Arya... eu sindo muito pelo seu pai, mas vocês dois tem que escolher. Vão nos impedir e vamos ter que matar vocês, vão ficar aqui, quietos, ou vão nos acompanhar e nos atrapalhar?

Para duas pessoas cansadas como Takane e Haruka, as coisas aconteceram em um ritmo muito rápido.

Ariel entrou voando no comodo, pousando no ombro de sua dona e Arya e o seu amigo, Haku, trocaram algumas palavras rápidas. A menina estava basicamente dormindo em cima do seu guardião a esse ponto, mas tinha que soar confiante naquele momento.

- É claro que eu vou com vocês... mas eu não pretendo atrapalhar - a garotas Pheles disse, com firmeza. O filhote de lobo deixou os seus lábios se curvarem levemente, no esboço de um pequeno sorriso.

- Garota, não deixe os anos de mimos a subirem a cabeça. Você realmente acha que as suas garras e dentes são afiados o bastante para sobreviver entre lobos e raposas?

Haruka e Lyon riram, como se contassem uma piada um para o outro. Takane lhes lançou um olhar assassino e o garoto mais velho sorriu para ela, os olhos ligeiramente fechados por causa do grande sorriso.
Ela também desenhou o pequeno riso preso em seu rosto que apenas aumentou quando encarou Arya e o amigo dela. As duas meninas se encararam e a mais nova olhou para o pequeno lobo como se perguntasse o que ela estava querendo dizer.

- Desculpa...

- Ah, Haku, estes são Takane e Haruka. Haruka, Takane este é Haku Shiroi - Arya se lembrou de repente, apresentando os três. Lyon sumiu, subindo as escadas, mas Takane o ignorou.

- Eu sou Shion! Shion Takane! Takane está bom.

- A-Ah! Bem, eu sou Haruka, Konose Haruka... é um prazer conhece-lo - o sono parecia embargar a voz do menino, mas esse sorria. Takane o encarou por um momento.

- Takane-chan, tem problema se eu levar ele com a gente?

- Maji de? Mas, bem, não. Isso só vai ser... - ela começou a gesticular para o guardião, pedindo ajuda para explicar. Ele simplesmente riu e colocou a mão no ombro da pequena protegida.
Mais de trinta centímetros separava o topo de suas cabeças e isso irritava ela.

- Muitas pessoas atrapalham o rastro, esse é o básico de qualquer caçada - Haruka explicou pela menina, tentando soar indiferente e confiante - Além do mais, isso é estrategia militar. Quanto maior o grupo, mais lento é o deslocamento. Se fosse só você e Takane, duvido que atrasássemos a ponto de perder o almoço em Horovitz. Porém mais uma pessoa... eu não conseguiria sustentar tudo isso. A comida também é um problema, não sabemos quanto tempo vamos demorar na Dungeon. Mas eu acho que se tivermos mais uma pessoa ou duas, conseguiremos completa-la sem problemas.

Ele falava de tática, estrategias e quesitos básicos da sobrevivência com aquele tom infantil e despreocupado, como se não fosse nada. Além do mais, em seu rosto estava um grande sorriso que cativava e ele transbordava confiança, como um líder nato.
Finalmente, Takane compreendeu o carisma do garoto.

- Quem foi que nocauteou eles? Eu sempre tive vontade de fazer isso! Esse cara me detestava e o mordomo... nunca gostei dele - Haku comentou, olhando para os dois corpos no chão. A mudança foi pequena, mas a menina viu o rosto de Haruka começar a ficar corado - Foi você? Cara, muuiito bom!

- Não! Na realidade, foi dificil! M-Mas é simples... é só uma questão de prática e... e depois de treinar com cadáveres fica bem mais fácil, além do mais... e-eu não sou nada disso e...! - o rosto dele estava vermelho como um pimentão. Takane riu e deu um pequeno soco no ombro do garoto.

Então até mesmo um idiota sem um pingo de bom-senso como ele podia fazer aquele tipo de expressões, he?

- Cale a boca, Haruka estupido! - era impossível não ser contagiado pelo riso da menina. Ele corava tanto que desviou o olhar - É claro que você é incrível! Você merece o titulo de "o mais forte", não eu! Apenas aceite o elogio, idiota!

- S-Sim...

Haruka tomou coragem e olhou para Takane.
Quando os olhares de ambos se cruzou, eles coraram e desviaram o rosto.

- Você sorriu - o murmurio era tão baixinho que apenas Takane com seus ouvidos atentos escutaria - Eu estou feliz.

- O-O que você está dizendo, seu idiota!? - mesmo que os anos passassem, Takane ainda tinha o péssimo habito de bater nas pessoas quando ficava envergonhada. Qualquer humano normal provavelmente desmaiaria com a força da joelhada que a menina deu no garoto - E-Eu....!

- Haruka!

O menino foi atingido na cabeça por uma mochila. Oscilando, ele deu um passo para frente, confuso.

- Lyon, mas o que...?!

- Livros - disse Takane, subitamente interessada na mochila. Ela ergueu a mão para toca-los, mas Haruka tirou do seu alcance. Ela continuou a tentar pegar a sacola dele.

- Mentira que você pode sentir o cheiro dos livros assim!

- Sim, agora me dá - ela pulou, procurando agarrar a mochila. O menino a ergueu e ela lhe lançou um olhar assassino, com um pequeno rosnado no fundo da garganta.

- A Takane é tão fof... !

Dessa vez, o menino fez uma pequena rachadura na parede. Takane lentamente abaixou a perna que havia usado para chuta-lo e o encarou, assassinamente.

- Queime no fogo do inferno, seu idiota estupido! - a garota ordenou, claramente irritada - Vá fazer alguma coisa útil e ajude o Lyon e a Arya arrumarem as coisas! E... ah! Falando nisso... vocês sabem dirigir ou há algum carro ou moto que possamos usar por aqui?

Takane colocou instintivamente os fones de ouvido.

Haruka cerrou o punho assim que a menina desapareceu na porta com Lyon.

Eu não pude fazer nada...
Ele nunca conseguia fazer nada. Fora ele o responsável por Egil ter ligado para Yukio e não havia conseguido pensar com clareza na hora, simplesmente ficando irritado e estragando qualquer chances que Takane tivera.

Por um momento, o garoto alto se perguntou se ele não tivesse ameaçado o Sr. Pheles, a menina teria aceitado aquilo.

Claro que teria. O filhote de lobo tentaria assassinar o noivo no meio da noite, mas teria. Ela não queria problemas para ninguém.

É impossível destruir o ódio, então é preciso eliminar as pessoas que o causam.
Se naquilo houvesse alguma chance de matar Yukio com aquilo, Takane concordaria.

Claro que naquela época, Haruka não sabia a razão para aquilo.
Mesmo assim, quando ele viu a garota amada se afastar com Lyon, ele sentiu um aperto no peito. Ele não podia protege-la direito, ele era fraco. Se lembrando da última vez que havia deixado aqueles dois sozinhos, ele pensou se seria melhor pedir para ele protege-la.

Lyon estaria sempre ali; ele não desaparecia tão facilmente. Ele estaria sempre ao lado dela e a coisa que Haruka mais tinha medo era de deixa-la sozinha.
Aqueles pensamentos pareciam o matar por dentro. Mesmo assim, ele esperava que Takane escolhesse o menino Pheles.

Não importava o quanto ele a amava, se ela correspondesse, aquilo duraria pouco. Ele morreria em breve; se o guardião chegasse aos 25... não, aos 20 anos, aquilo seria uma espécie de milagre.

E havia aquela outra questão...
Realmente, era necessário estragar o que havia entre eles por um futuro incerto como aquele?

Ele havia tentado dizer a ela várias vezes, é sério.
Mas alguma coisa sempre acabava acontecendo no final.

Ele basicamente havia a forçado a escutar da última vez.
Na realidade, ele tinha um desejo inconsciente que as verdades contidas naquela caixa a deixassem com raiva dele. Assim ela ficaria menos triste, sabe, quando ele morresse.

Haruka deu um pequeno sorriso para Haku e Arya, que haviam acabado de voltar.
Aqueles dois eram incrivelmente fáceis de ler e o garoto mais velho não podia deixar de ver ele e Takane dentro dos mais novos.

Depois de refletir como aquilo havia soado melancólico, ele abaixou a cabeça e desviou o olhar.

- Percebam antes que seja tarde demais - ele basicamente implorou para os dois, mas a sua voz mentia. Nela, havia o mesmo tom infantil e despreocupado usual.


Eu sou uma idiota...
Teria sido melhor ter aceitado aquilo de cabeça baixa?

Haruka com certeza estaria seguro agora.
Mas Haruka, ah, tinha que ser Haruka...

O que a menina simplesmente queria fazer era se enrolar em um canto e chorar. Ela havia inventado aquela história da Dungeon para ter uma justificativa para sair dali. A garota não achava que aquelas pessoas seriam idiota o suficiente para segui-las.

Por que o mundo tinha que ser tão dificil?
Por que ela tinha que ser tão estupidamente idiota e não conseguir falar aquelas palavras simples?

- Ok, agora escolha sua arma.

A fala de Lyon a despertou de seus pensamentos.
Olhando ao redor, ela tinha uma vaga ciência dos incríveis veículos. A depressão e o sono lhe roubavam a atenção.

A garota havia usado o seu poder demais. Louca de raiva como estava com Egil, ela havia invocado todas aquelas armas sem pensar.

- Yey... - ela tentou soar levemente animada com aquilo.

Haku, Haruka e Arya chegaram um pouco depois.

Aqueles rostos sorridentes... qual era a realidade e qual era a mentira? Os sentimentos conflitantes que ela sentia em relação a Haruka ou a amizade dele?
E no final, tudo o que restava, era um sentimento eterno de isolação.

- Takane, você está bem?

- ... Ah! Ah, sim! - ela coçou os olhos.
Com um susto, ela percebeu... ela percebeu que não deveria estar sonolenta. Cansada e exaurida? Sim. Mas sonolenta...
Não... aqui não...

- Eu só vou pegar uma moto e...

- Takane, você realmente acha que está em condições de dirigir? - o olhar de Haruka era repreendedor. A menina piscou por um momento e o encarou, enquanto o seu coração parecia dar cambalhotas e mortais. O garoto agarrou o pulso dela com delicadeza - Venha comigo.

Ele a conduziu pelo lugar até achar algo que fosse de seu agrado, uma Yamaha V Max de um preto fosco. Indo até ela, o guardião delicadamente levantou a menina como se fosse uma boneca e a colocou em cima da moto.

- Ah! A minha saia...!

- Ah! Desculpa! Desculpa! Não era a intenção e...!

- A-Apenas vire a cabeça!

Ele obedeceu.

- Pronto - comentou a garota. Agora ela vestia uma calça jeans preta, jaqueta de couro e uma camiseta branca, além de coturnos. O seu rosto estava bem vermelho, mas parcialmente oculto pelo capacete azul que estava usando. Em seu colo, havia outro, de um tom vermelho. Era incrível a capacidade dela de manipular as sombras - E-Essas roupas são melhores para viajar.

- Ficaram incrivelmente bem em você - comentou o menino, corando e desviando o olhar também. Irritada, Takane jogou o capacete nele.

- H-Haruka estupido! - ela vestiu o dela apropriadamente, mas era obvio que estava sorrindo.
Haruka montou na moto também.

- E então? Uma corrida até Horovitz? - ignoraram.
Ele deu ignição na moto.

- Segure-se.

- Quem você está mandando ter cuidado? - censurou a garota. Ela passou os braços ao redor do peito dele, sem saber muito bem o que fazer. Seu rosto estava incrivelmente vermelho e ela se perguntou se o menino poderia escutar as batidas do coração dela, por causa do peito que estava sutilmente apoiado nas costas do garoto.

Antes que todos os outros saíssem da garagem, eles já aceleravam pelos jardins e iam em direção a estrada.

Assim como mostrava a personalidade de Haruka, ele dirigia calmamente.
Acelerando insanamente, mas calmamente.

Era como se ele estivesse passeando no parque ou coisa assim. Ignorando isso, ambos deveriam ter ultrapassado o limite de velocidade a muito tempo; os reflexos do garoto no transito também eram, bem... felinos.

- Tudo bem, seu mariola, hora de acertamos nossas diferenças... - Lyon gritou em algum lugar lá atrás e Takane tinha uma breve ideia do que aconteceria. A adversidade realmente é a mais legal, ela não pode deixar de pensar, mudando ligeiramente de posição - Corrida até a gasolina acabar...

A moto disparou na frente das outras duas. Uma das características de Haruka que só se percebia quando ele estava irritado era a infantilidade; no final, ele era uma pessoa infantil que odiava perder.
Takane sorriu. Ela mesma não era muito diferente. Além de se sentir mais próxima do menino com aquilo, ela achava aquele lado dele fof...

Ela bateu a cabeça nas costas do menino antes que fosse totalmente infectada pelo "vírus Haruka".

- Takane, o que está...?

- Olhe para a estrada, idiota! - o garoto desviou de um carro que estava pelo menos uns cem quilômetros abaixo da velocidade média da moto. A menina suspirou aliviada.

Mas eles sobreviveram as quatro horas seguintes. Aquilo era uma espécie de milagre.
- Desculpa.

- Não, está tudo bem e... escutou esse barulho? - orelhas de lobo saltaram por entre os cabelos da menina, se agitando dentro do capacete e tentando escutar melhor - Estão desacelerando... sem gasolina, talvez?

- Quem?

- Não dá para saber, o vento não está ajudando o meu nariz - ela balançou a cabeça e o menino começou a desacelerar também - Por mera precação... encontre um lugar para pararmos, sim?

- Entendido, Danchou.


Paramos em uma loja de conveniência na beira da estrada. Enquanto Haruka esperava os outros do lado de fora, eu comprava bebidas lá dentro. O lojista era um homem mal-humorado de aparência decrepita que não ficou muito feliz enquanto eu comprava as coisas.
No balcão havia alguma coisa que parecia pão. Comprei um também.

- Aqui - disse, jogando uma lata de chá gelado para ele. O garoto a pegou em pleno ar e nos sentamos em um banco na frente da loja, esperando os outros. Abri a minha garrafa de iced coffee.

- Ahn? - a garota fungou o ar ruidosamente. Ela havia ignorado quando chegaram ali, mas agora estava bem forte - Esse cheiro...

- Adeus.

Ela olhou para onde o menino estava. Em seu lugar, havia uma raposa filhote branca que balançava lentamente a cauda, despreocupada.
Takane piscou.
E então gritou.

- HARUKA!

- Sim? - a raposa tombou de leve a cabeça para o lado, encarando a menina com graça.

- V-Você é um hanyou? - na voz dela, havia um certo tom de surpresa e espanto, mas o que predominava era a admiração.

- Não, meus pais eram humanos...

- Entendo... - a menina pegou a pequena raposa nos braços e encostou de leve o nariz na testa dele. Cheirava como Haruka, pelo menos para o seu olfato apurado: nanquim, grama recém-cortada e algo que parecia ser pasta de dente de hortelã. Porém agora havia algo mais... selvagem no garoto. Como o cheiro de folhas em decomposição e algo mais - Dá para voltar a forma humana?

- Perto daquela garota?! Sem chance! - um tremor acompanhou o corpo pequeno. Aquilo era... incrivelmente fofo - Ela me assusta... Takane, dá para você me chamar de outra coisa, além de Haruka?

- Do que você quer que eu te chame? - ela suspirou, irritada. A raposa pulou para o chão e rodeou os pés que calçavam coturnos dela - E afinal, há quano tempo você sabe fazer isso?

-Descobri como fazer algumas semanas atrás - ele fez um gesto com a cauda que poderia ser levado como um dar ombros - É engraçado te olhar assim, Ta-chan.

- Ok, Konoha - ela suspirou irritada, testando o som do apelido do menino. Soou bem; combinava com uma raposa, de certa forma. Era aquilo ou Gin, Takane não conseguia pensar em outro nome para apelidar o garoto. O personagem de Haruka no jogo que jogavam juntos era Konoha, então era mais fácil vê-lo assim - Hora de encarar Momo... Quer ir no meu ombro?

Ele fez que não com a cabeça e a garota sorriu, se ajoelhando e fazendo carinho na sua cabeça, bem de leve.

No momento que o pequenino foi tirado de suas mãos bruscamente, Takane se exaltou. Ela crispou os lábios mostrando os seus dentes afiados. Orelhas saltaram de seus cabelos eriçados e a cauda que havia surgido na garota de repente, assim como as orelhas de lobo, balançava lentamente em tom de ameaça.

- Você! Haruka! Faça alguma coisa por favor, antes que a Momo me veja! Me transforme em qualquer coisa, mas por tudo que é mais sagrado, não me deixe assim!

- Pare, você o está machucando! - era para ser um pedido educado, mas ela estava preocupada demais para se lembrar de se esconder seus sentimentos. Haruka naquela forma parecia... vulnerável. Aquele instante pareceu nostálgico para ela, por um motivo desconhecido.

O garoto balançava a pequena raposa com violência e Takane pulava contra ele, tentando pega-la de volta. O desespero estava evidente em seu olhar, mas o menino alto desviava.
Enfim, Arya segurou o seu braço e o fez parar. Takane lhe lançou um olhar como se dissesse "obrigada".

- Vamos com calma, não deve ser tão ruim assim encontrar a Deviluke aqui e...

- Você está brincando, certo? - a voz da menina tentou sair o mais controlada o possível. Haruka saltou de volta para os seus braços e ela encarou a raposa prateada, preocupada - Você está bem?

- Só um pouco tonto - ele a encarou, em seu rosto canino uma expressão que deveria ser um sorriso. A garota brincou com ele com o dedo por um instante.

- Haruka, tem alguma coisa que você possa fazer pelo Haku? - Arya parecia preocupada. A raposinha balançou a cauda em um sinal de negação.
Mas aquilo poderia ser um dar ombros.

- Nunca usei esse poder em outra pessoa, então eu não sei... poderia apagar a presença dele com magia, mas não sei restringi-la apenas para Momo, por exemplo... - a voz dele saia mais fina do que costume, como se ele ainda fosse um garotinho de uns 12 ou 13 anos que não havia crescido muito. Os lábios de Takane se curvaram levemente. - Mas talvez eu... Hey, Takane. Me erga.

A menina obedeceu e levantou o corpo pequeno. Ele tocou Haku no peito com a cauda e por um momento, a figura dele pareceu ondular.

- Pronto... é o melhor que posso fazer. Arya, eu espero que você saiba dirigir.

- Alguém já lhe disse que a sua técnica de transformação é perfeita? - Takane comentou, distraída. Ela encarava o menino de uns dez anos usando roupas excessivamente largar, que deveriam ter pelo menos o dobro do tamanho dele. Ela lhe jogou uma muda de vestimentas que havia acabado de criar a partir das sombras.

- Eu realmente gostaria de aprender a fazer isso - comentou Haruka, assistindo tudo - E Haku... não fique muito afastado de mim. Eu não sei os meus limites transformando outro corpo e é a primeira vez que faço isso. É melhor eu estar por perto se algo acontecer.

Takane deu um sorriso, como se perguntasse se já podiam quebrar os dentes de Momo.

Os lábios da garota se abriram em um pequeno sorriso sinistro. Talvez ela fosse sorrir sem o objetivo de intimidar a outra, mas os seus dentes afiados e a cauda balançando como se estivesse espreitando uma presa descartavam essa possibilidade.
Takane estalou os dedos ameaçadoramente. Seus olhos pareciam prestes a explodir em chamas e talvez fosse isso que ela quisesse fazer para Momo. Seu sorrisinho continuou, sádico.

- Ano ne, ele é a minha raposa-familiar estupida - a sua voz era clara; se a garota semi-nua fizesse alguma coisa, ela a faria desejar nunca ter nascido ou, se lhe houvesse um pouco de juízo, que Takane nunca tivesse nascido.

Antes que o clima ficasse mais pesado, Haruka mordeu o dedo de Momo com força e, no instante de confusão, pulou de volta para o colo da menina. Ela o abraçou com força, certa que mais alguém apareceria para infernizar o pequenino.
Ai a sua paciência provavelmente teria acabado e ela enterraria as garras na garganta da pessoa.

- Ok, para onde vamos agora?

- Resumo da situação: Haruka e Haku acharam melhor seguir para Horovitz para tentar convencer os militares a abrirem uma brecha para passarmos ou cria-la. Mas ai descobrimos estar seguidas por ele - ela apontou para o pequeno guardião de Arya, quase rolando de rir internamente - Ai eu invoquei o meu familiar, a raposa idiota aqui, e ela nos ajudou a pega-lo.

Haruka olhou para ela com um olhar repreendedor. A menina o respondeu com um olhar de alerta.

- Vamos para Horovitz. Combinamos de encontrar Haruka na frente da Dungeon - Takane deu ombros, suspirando. Uma tarefa relativamente dificil com uma raposa em seus braços - Ele pode já ter entrado, nesse caso usaremos Konoha para rastreá-lo. Nossos planos são chegar em Horovitz até o meio da noite.

Konoha/Haruka desceu para o chão e se esgueirou em torno das pernas de Haku-Chibi. Takane distribuiu as bebidas que havia comprado para todos e jogou um pedaço do pão para a raposa, que o agarrou no ar. Ela comeu o resto rapidamente e foi na frente até a sua moto.

- Eu vou na moto de Haruka. Momo vai com Lyon e Arya leva o menino. E nada de destruir a estrada ou usar os seus poderes! - ela mostrou os dentes uma última vez, antes de voltar ao normal - Vocês podem controlar isso, então nada de problemas! As autoridades chegarão aqui em minutos! Sinceramente, vocês já viveram no mundo real? Ou ficaram a vida inteira presos naquela mansão?

Irritada e seguida por Konoha, ela subiu na moto. Ele se enrolou no pescoço dela e a menina disparou pela pista.