Through the Trees ♣ Aventura para Takane Shion e Lyon Waker

- Como sempre, você pegou muita comida - comentei para Haruka. Deveria ter, sei lá... comida para umas 5-6 pessoas na sacola que ele segurava. Nós nos sentamos em um banco e observamos a neve cair pelo patio deserto.

- Sim! Há muitas coisas novas na cantina, sem falar na maquina de vendas que colocaram - o menino disse, pescando alguma coisa lá de dentro. Melonpan, pelo o que eu pude adivinhar. Eu peguei um doce parecido da sacola e o examinei.

- Você vai conseguir comer tudo?

- ... eu não sei - pelo menos ele era sincero. Mesmo assim, sempre que eu saia com Haruka, me dava vontade de chorar e eu me sentia culpada. Alguns anos atrás, eu sabia bem pouco sobre a sua doença: as únicas informações que eu tinha era que a dele era bem pior que a minha e que um ataque poderia ser fatal.
Depois que eu havia descoberto que estávamos na mesma condição... bem, eu havia ficado bem irritada. A mesma doença. Aparentemente, as mesmas causas. Mesmo assim, ele poderia morrer a qualquer instante enquanto eu provavelmente tinha uma vida longa e feliz pela frente.

Bem, não tão feliz assim. Ao perceber que Haruka notará a expressão no meu rosto, eu desviei o olhar.

- Então... pegue o que você quiser! - ele comentou, sorrindo. Eu estava meio distraída, então demorei um pouco para perceber que ele falava comigo.

- Ahn... Ah! Ah, sim! - eu peguei um saco de balinhas de dentro da sacola e peguei uma bala de goma azul - Ei, amanhã... amanhã vamos nos encontrar na mesma sala como sempre, ok? Vamos nos sentar juntos, estudar juntos e conversar juntos, como sempre fizemos...

- Eu não posso prometer nada - ele me lembrou. Eu mordi o lábio e o encarei, irritada - Desculpa, Takane...

- Não diga isso nessa calma! - briguei com ele, irritada. Eu odiava aquilo: como ele podia simplesmente aceitar a morte, desse jeito - Ainda estamos vivos, não é? Podemos fazer alguma coisa!

Ele acariciou os meus cabelos. Eu estava corada de raiva, vergonha e frio, mas o encarava com uma determinação... bem, diferente. Da primeira vez que havíamos tido aquela conversa, eu havia chorado.
Não que a minha situação houvesse mudado muito desde então. Eu ainda era a mesma garotinha de antes.

Haruka sorriu.

- Takane, enquanto eu puder... enquanto eu puder, eu sempre estarei ao seu lado. Não pense no que vai acontecer quando eu não conseguir mais estar aqui, por favor.

Eu senti um aperto no coração naquele instante. Sinceramente, eu estava dividida: parte de mim queria socar aquele sorriso triste dele. Outra parte, queria abraça-lo como ele havia feito muitas vezes comigo e falar que aquilo não era o suficiente, que eu queria que o idiota ficasse ali para sempre.
Mas grande parte de mim queria simplesmente chorar. Eu abaixei a cabeça.
Se o mundo é um lugar como esse, então é melhor simplesmente... !



O telefone de Haruka deveria ter tocado pela milésima vez naquela manhã. Logo, eu cometeria um homicídio culposo e doloroso se o idiota não atendesse o telefone. Massageei a testa, tentando me acalmar.
Eu ia matar aquele cara.

O celular chamou até quase cair quando ele finalmente atendeu. Eu quase dei noticias animadoras para ele, do tipo "Ah, onde você está? Estou indo ai para te matar agora mesmo!", mas me contive.

- Bom-dia - consegui escutar a voz sonolenta dele. Bati a testa contra a parede.

- Onde você está? - voltando ao plano do assassinato...

- Ah, na cama, por q...

- HARUKA!

- Ah! Ah... eu estou acordado! Juro...! Zzz...

- SEU IDIOTA! - gritei, irritada - Francamente, era para já estarmos nas docas... se arrume e me encontre no portão!

Os planos eram para que eu e Haruka viajássemos hoje. Eu havia sugerido passarmos as nossas férias no colégio mesmo, mas a minha avó havia aparecido com aquelas duas passagens para o Caribe e meio que não havia como recusar, principalmente quando elas eram de graça e para comemorar meu aniversario.
Havia tido uma pequena guerra interna minha contra meus avós depois: eles eram absurdamente ricos e haviam se oferecido para pagar uma estadia em um resort de luxo para nós, mas eu havia recusado até a última fibra do meu ser. Ir para as Bahamas? Ok: estávamos no inverno e fora de temporada, as passagens eram baratas. Ficar no hotel mais luxuoso do lugar? Sem chances.

Por fim, acabamos alugando uma pequena casa na praia com quatro quartos por uma semana. Haviam mais algumas pessoas que iriam ficar no lugar, o que me fazia me sentir um pouco melhor: viver uma semana com Haruka me assombrava.

Olhando para o passado agora, talvez eu devesse ter recusado as passagens, ou aceitado o hotel luxuoso da minha avó. Talvez eu devesse ter acordado um pouco mais tarde. Tudo para perder aquela viajem.
Eu não tinha a minima ideia de como a minha vida mudaria na semana do meu aniversario.

Those who are no more exist

- Quem está atrás de você agora? Kagome, kagome...

- Você gosta mesmo dessa música, não é? - Haruka deu um sorriso. Ele carregava as nossas coisas agora e o meu casaco estava amarrado ao redor da minha cintura - Hey, no que você está pensando?

- Eh? Eu achei que eu fosse o tipo de garota fácil-de-ler - comentei, passando a andar para trás e o encarar com um sorriso ambíguo. Ele corou e desviou o olhar, então paramos - Eu estou pensando em como estou feliz. Não foi livre de incidentes, mas essa viagem está sendo divertida. Obrigada, Haruka.

Mesmo assim, eu poderia me esquecer amanhã.
Com um aperto no peito, eu tomei o exemplo dele e desviei o olhar. Então me lembrei de algo que eu tinha dentro da bolsa. Eu a abri e comecei a remexer, pegando a bolinha vermelha que havia lá dentro.

- Aqui, para você.

- M-Mas é o seu aniversário, você não deveria dar presentes para as pessoas assim! - ele estava corando, envergonhado - Ah, falando nisso, o seu presente...

- Droga, está tudo bem, apenas pegue! - eu o enfiei na mão dele, irritada. Meu rosto estava começando a ficar vermelho por causa do sol - Eu também tenho um. É um telescópio de dedo.

- Eu vou te dar o seu presente chegando na casa, juro - ele estava envergonhado, mas eu sorri um pouco. Por mais que Haruka estivesse sempre sorridente, eu sabia que ele não era exatamente assim; ele nunca mostrava os seus sentimentos, na realidade. Um estranho camaleão que se adaptava em todos os lugares.

- Como eu disse, não precisa - não era um sorriso exagerado, nem um sorriso pequeno demais. Pela primeira vez, eu me senti... certa. Alguém normal. Surpreendentemente, o ordinário não era algo tão chato assim - Eu não estou acostumada a receber presentes ou celebrar o meu aniversario. Esse é um dia completamente normal. O mundo vai continuar a se mover. Está tudo bem.

- Você não entende! - ele estava mesmo corando? Não... Haruka estava nervoso. Irritado. Aquilo... bem, eu comecei a corar também - Eu queria ter te dado isso ano passado, mas não pude. Eu... eu perdi a coragem depois disso. Então pensei que se eu desse para você hoje, você aceitaria sem ficar brava comigo.

- Haruka... eu não sei como te dizer isso, então vou ser direta. Se continuar falando essas coisas, eu vou te bater - ameacei, em tom definitivo. A minha expressão era séria - Eu sempre vou aceitar tudo o que você me disser. Se você me odiar, eu vou aceitar. Se você me achar repugnante, eu vou aceitar. Se você nunca mais quiser me ver na vida, eu vou aceitar. Se você for o meu amigo, eu vou aceitar. Se você me amar, eu vou aceitar. Mas... se você não quiser perto de você, infelizmente, vou ter que te fazer mudar de ideia.
Então, eu o encarei, desafiadora.

- Eu jamais diria algo como isso - ele comentou, sorrindo. Eu corei e desviei o olhar - Vamos, Takane! Chegando em casa, eu vou assar um bolo ou uma torta. Podemos cantar "parabéns" e comer sorvete, também!

Ele pegou a minha mão.
Nós corremos.



A primeira coisa que eu percebi era que estava caindo.
Todo o resto veio depois.

Um ruido torturante de esmagamento veio do meu pé esquerdo. Eu dei um pequeno gemido de dor.
Nesse instante, a sacola caiu na minha cabeça junto com o que parecia uma pedra, pontuda e afiada.

Em meu estado de consciência confusa, eu demorei um pouco para entender que eu estava deitada sobre o meu sangue e que aquela coisa preta era a camiseta de Haruka.
Eu gritei e recuei, me apoiando no meu pé. A dor invadiu o meu corpo a partir do meu tornozelo e novamente eu cai, ligeiramente bêbada pela sensação agoniante.

- Takane, fica quieta! - a voz dele era autoritária e eu o obedeci, me apoiando na parede.
Estávamos em um buraco que deveria ter algo entre quatro e seis metros de altura, por uns dois de largura. Eu tinha certeza que havia pisado em um chão solido, como...?

Haruka cutucou o meu pé. Eu soltei uma exclamação que misturava surpresa e dor.

- Desculpa! Desculpa! Desculpa! - ele parecia realmente preocupado com o meu estado. O seu rosto branco parecia mais pálido ainda - Takane, você...

- Está doendo - reclamei baixinho, como se fosse uma criança pequena.

- Você teve um entorse - Haruka começou a explicar, em um tom tranquilizador. Eu o encarei, tremendo - Esta tudo bem. Você não vai poder pisar com muita força por um ou dois dias e é melhor você andar apoiada na parede. E quando chegarmos lá em cima, vou limpar a sua testa. Tem um corte bem feio nela.

Eu fiz que sim com a cabeça.
Houve um curto silêncio.

- Que irônico - comentei, com um risinho.

- O que?

- Kagome kagome - comentei, com uma voz que poderia ter um milhão de significados diferentes - Sabe... nós somos os pássaros, essa é a gaiola. Nós caímos como o grou e a tartaruga e está quase de noite. Além do mais, quando seremos capazes de escapar? Pode demorar horas. E no final, quem é o idiota que armou isso para a gente?

- É verdade - Haruka estava rindo. Eu deixei esboçar um sorriso - Realmente, podemos comparar muitas situações a essa música. Entendi porque você gosta tanto dela.

- Que tipo de situação?

- Ah, sei lá - ele deu ombros e eu o encarei, intrigada - Por exemplo, bem, nós. Somos os pássaros. Estamos cercados, incapazes de fugir; tanto a Academia quanto o seu clã são a gaiola. Estamos presos; não sabemos quando poderemos escapar. Ao mesmo tempo, o tempo está nos pregando uma peça e não sabemos como escapar desse "período inexistente". Por fim, o grou, a tartaruga e quem está atrás de nós. O grou e a tartaruga estão caídos e dormindo. Ou pode significar o nosso azar extremo ou alguém importante para nós morreu, talvez nesse período de tempo inexistente. Então... quem está atrás de nós? Pode ser a figura que tem o poder nas sombras - Emma - ou um governante - Yukio -. Ou talvez seja o nosso executor.

- Também podemos interpretar isso como um cadáver sem cabeça - comentei, seguindo a linha de raciocínio do menino. Na realidade, eu nunca interpretara a música como algo tão sinistro assim - Quero dizer... o executor. A pessoa já pode ter sido morta, a cabeça rolou pelo chão. Ela está olhando para o próprio corpo, quem está diretamente atrás dela.

- Então... que conclusão chegamos?

- Ah, talvez que estejamos encrencados. Não podemos vencer essa guerra. E que a técnica que fez esse buraco seja a mesma que nos atacou mais cedo? - comentei, meio sorridente e animada.a Ok, aquilo era divertido.

- Lyon? - perguntou Haruka com um sorrisinho. Eu retruquei, feliz que ele estivesse entendendo.

- Vamos sair desse buraco, então?

Nos levantamos e eu usei Haruka para me apoiar. Ele pegou a bolsa e a passou para mim.
Rapidamente, tirei a Scyfle lá de dentro e eu me vi encarando a foice.

Ela era pequena, até. Mais ou menos um metro e sessenta de cabo e talvez uns dois terços disso ou menos de lâmina. Mesmo assim, era extremamente incomoda de se manusear naquele espaço apertado.

- Um, dois...!
Eu me coloquei em posição.

Um minuto... não, trinta segundos seriam suficientes.


O senso de dor em meu corpo ficou entorpecido.
Eu passei a não saber se estava frio ou quente.
Quando o meu machucado deixou de ser algo além de um formigamento leve, eu me senti ser lançada no ar.



- Ly-on ♪♫
O simples tom de "irmã mais nova adorável" em minha voz já anunciava perigo. Momo e Lyon pareciam estar relaxando na cozinha.

Uma menina com um corte na testa, vestindo biquíni, com algumas cicatrizes bem feias a mostra, segurando uma arma de fogo enorme e vermelha e apoiada em um garoto com a camiseta suja de sangue confirmava a sensação de alerta.

- Eu vou fazer um buraco em você, seu bastardo.

I laughed a bit

Momo se escondeu debaixo da mesa. A raiva queimava em meus olhos.

- Pelo quê? - aquele garoto conseguia me deixar mais fora do sério que o Haruka. Rindo e debochando, ele se aproximou de mim. Eu apontei a arma para ele - Por cair num buraco de 6 metros de altura? Há! Isso não foi nada, você devia estar me agradecendo - ele lambeu os lábios, como se o que tivesse na sua frente fosse uma presa fraca e patética e ele fosse o predador - Tenho certeza que nem você nem o Haruka nunca teriam coragem de ficar naquela posição que vocês provavelmente ficaram lá embaixo.

- Na realidade... - comentou Haruka, distraído e com um sorriso no rosto. Eu comecei a pensar que ele falaria o irracional e impensável - A Takane cai bastante, então aquilo acontece mui...

- NÃO DIGA ISSO PARA AS OUTRAS PESSOAS! - gritei, lhe dando uma joelhada no estomago. Nervosa e corando, passaram-se menos que dois segundos antes que eu caísse no chão e a dor se espalhasse pela minha perna.

Gemendo e recolhendo o pé machucado para perto do meu corpo, eu abracei o meu joelho esquerdo com meus olhos lacrimejando.

- Ah, Ta-chan! - Haruka exclamou, me ajudando a me sentar. Ele me encarou, sério - Eu te falei para não apoiar nele...!

- Está tudo bem, caramba, eu apenas...

Inconscientemente, eu procurava o meu rifle com a mão. Quando eu toquei, percebi que alguém já o manuseava.
O apontei para o peito de Lyon e ele, rindo, o levou até o meio da sua testa.

- Mas se você quer me fazer um buraco, vá em frente... - a sua expressão era calma, porém meio irônica.
Aquele era o maior crime que ele podia cometer.

O meu rosto era uma mascara de diversas faces.
A face do executor.
A face do assassino.
A face do vingador.
E, por fim, a face vazia de um morto ou de uma mascara em branco.

Sem hesitar, eu puxei o gatilho.
Não houve recuo.
Não houve barulho.
Apenas a sensação familiar do pequeno objeto se movendo, em harmonia com o meu dedo.



- Ah, você ainda está vivo - foi o meu primeiro comentário, com uma voz ligeiramente desapontada.
A mão tremida de Haruka havia desviado a arma para cima, de modo que agora havia um pequeno buraco no teto ao lado da cabeça de Lyon. Os cabelos do garoto estavam brancos e um destroço caiu em cima dele, o fazendo xingar.

Por fim, o meu guardião deu um sorriso, deslizando a mão pelo cabo até a minha.

- Desculpa, mas pessoas não devem morrer tão levianamente assim - a voz dele estava fraca. Alguma coisa, além do desprezo, começou a invadir a minha mente.
A preocupação.

- Ele queria morrer, eu só... - comentei, irritada. Então Haruka caiu de quatro e começou a tossir, a mão tampando a boca. O menino estava mais pálido que de costume - HARUKA!

- Eu estou bem, eu apenas... - era dificil para ele sequer falar. Meus pensamentos haviam se desviado totalmente de Lyon.

- A sua mão! Me deixe ver a sua mão! - o desespero começava a me invadir. Eu puxei a mão que ele usava para tampar a boca para mim e encarei o sangue seco misturado com saliva que havia ali.
Suspirei aliviada. O menino parava de tossir, até finalmente tudo aquilo não passar de uma respiração chiada.

Os meus olhos tremiam. Eu encarei Momo com raiva, desespero e suplicia.

- Momo, por favor...!

- Takane, está tudo bem. Momo-san, me ajude a levantar, sim? - comentou o garoto e Momo obedeceu - Takane, eu vou tomar um remédio e tratar de você. Viu? Estou de pé. Não foi nada sério!
Em seu rosto havia um rosto despreocupado. Ele me ajudou a me levantar e eu o obedeci de bom grado, embora ainda protestasse.

- Mas...!!
Ele me lançou um olhar de "conversamos mais tarde" e eu me calei. Usando Momo para nos apoiarmos, subimos a escada. Haruka me sentou na cama dele e viu a garota de cabelos rosados descer.
Ali, os nossos problemas começavam a surgir, mas tudo aquilo era apenas o inicio.

I laughed a bit

Eu fechei a porta atrás de mim e ouvi por um segundo, para ver se alguém escutando.

- O que está acontecendo? - perguntei imediatamente, encarando Haruka, séria. Havia me apoiado na parede, com o meu pé machucado levemente suspenso no ar.

- Quem sabe? - ele deu um sorriso infantil e eu lhe lancei um olhar assassino. Sem tirar o sorriso do rosto, ele continuou - Um impostor poderia ter aparecido, então devemos extermina-lo. O problema é que o melhor jeito de reconhecer eles são por manias discretas, técnicas e padrões de fala. Cá entre nós, não conhecemos o Lyon o bastante para assassinar qualquer um dos dois.

- Não podemos simplesmente matar todos...?

- Takane, isso é diferente de assassinato - ele me disse, calmamente como se conversássemos sobre o clima - Isso seria simplesmente um crime. Eles não fizeram nada de grave a ponto de querermos todos os Pheles como inimigos.

Nesse ponto, ele já estava distraído e remexendo na sua mochila, sentado na cama. Eu não pude deixar de notar como Haruka parecia... maduro. A sua face infantil e inocente era o seu papel naquela grande peça agora. Ele havia entrado totalmente naquela guerra rapidamente; se eu não tivesse com ele durante aqueles dois anos, eu não acreditaria que ele era o mesmo garotinho sorridente de antes.
Eu não sabia como deveria encara-lo: quem realmente era Konose Haruka? Aquele menino? Ou o jovem que estava na minha frente? A despeito de tudo que ele sabia sobre mim, eu realmente sabia pouco sobre ele.

Todos nós tínhamos uma mascara. Escondíamos os nossos verdadeiros e frágeis eus com escudos de força ou indiferença.
Mas havíamos aprendido uma coisa... não podíamos confundir fragilidade com inocência.

- Huh? O que você está olhando?

- Ah, nada! - eu corei e desviei o olhar. Desde quando ele tinha costas tão largas... ? - O que você está procurando?

- Isso - ele tirou o kit de primeiros socorros da mochila e o abriu, pegando um remédio e o engolindo em seco - Ah, eu odeio esse remédio. Tem gosto de café!

- Haruka... você não gosta de café? - mancando, eu fui até a cama. Ele deslizou para o lado e me deu espaço onde sentar.

- De jeito nenhum! - havia uma careta na sua face. Eu quase ri. Era bom ver que tínhamos alguns momentos como aquele - É amargo demais!

Esbocei um pequeno sorriso e ele colocou o kit entre nós, separando bandagens, gazes, talas e remédios, além de cerca de um milhão de band-aids e um chumaço de algodão.
Eu já ia pegando o que ia precisar quando os meus dedos roçaram no de Haruka. Encaramos um ao outro, corando.

- Você primeiro! - exclamamos em uníssono. Eu fui a primeira a desviar o olhar, pegando rapidamente o remédio e o algodão.

- Me deixe fazer isso - pedi, irritada. Ele deu um pequeno sorriso e eu comecei a limpar e cobrir os arranhados do rosto dele - Se vire.

Depois de hesitar um pouco, ele me mostrou as costas. O meu rosto ficou branco: a gola da camiseta havia sido destroçada e no pescoço do menino haviam inúmeros cortes e parecia que a pele havia sido raspada.
Não era tão diferente de mim, daquela vez...

- Haruka...

- Apenas acabe isso logo. Preciso cuidar de você - ele parecia um pouco mal humorado, por mais gentil que fosse a voz dele.
Eu apliquei o remédio e ele se encolheu um pouco, mas nenhum ruido escapou dele quando cobri o machucado com gaze.


Eu gostaria de dizer que algo parecido aconteceu comigo.
Na realidade, eu era bem resistente a dor.

Quando eu estava em combate e a adrenalina corria por todo o meu corpo.

Na realidade, eu nunca havia me acostumado com mãos estranhas. Haruka me tocando... bem, era uma espécie de exceção especial, mas eu odiava que ele me visse naquela posição patética, precisando cuidar de mim.

- Ai! Cuidado com isso na minha cara! - reclamei, enquanto ele limpava o meu machucado na testa. Ele deu um pequeno sorriso e recolheu o algodão encharcado e sujo de sangue. As mãos dele estavam tremendo; era obvio que ele estava sentindo dor.

- Desculpa, eu...

- Eu deveria te deixar dormir e cuidarmos disso depois - comentei, preocupada. Era só um machucado. Haruka... Haruka estava...
Ele deu um chute no meu pé, bem de leve. Dá minha boca, saiu um gemido de dor e surpresa.
Eu ia soca-lo, mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ele pegou o meu pé machucado e começou a enfaixa-lo e imobiliza-lo, o que provava que ele estava de péssimo humor.

- Está me machucando! - reclamei, com um pequeno gemido no fundo da minha garganta. Eu soltava uma exclamação de vez em quando, quando o garoto apertava a faixa com força demais ou batia no meu pé por acidente.

- Calma, aguente só mais um pouco...

Guardei quaisquer protestos em um olhar assassino e no baixo gemido que eu deixava escapar.
Ele largou o meu pé e soltei um longo suspiro de alivio.

Haruka riu.
Eu o soquei.

- Descanse, seu idiota. Eu te forcei muito hoje, eu não deveria...

- Eu realmente não me importo - ele acariciou o meu rosto, com um pequeno sorriso no rosto - Você me faz feliz, Takane. Se você fica feliz quando eu estou do seu lado, realmente não importa.

- Eu... eu posso dormir com você hoje...?

Espera...
Aquilo...
Eu havia dito mesmo aquilo...

Em voz alta...
- Se for da última vez, eu não vou me perdoar. Eu vou estar aqui o tempo inteiro, olhando por você, então...

I laughed a bit

Ele riu.

- Takane, você é tão... pura - Haruka não parecia estar se aguentando sentando, de tanto que estava se divertindo.

- O-O que!?

- Você é estanha! Desculpe, mas eu não consigo... - o garoto começou a tossir de novo, mas dessa vez sangue acompanhava a tosse. Um aperto se instalou em meu peito.

- Haruka! - ele limpou a boca com as costas da mão. Seu rosto estava mortalmente pálido e a pele dele estava extremamente palido - Haruka, você não está bem, vamos...

- Takane, a minha prioridade é te proteger. Isso não é nada - ele deu um sorriso, um rastro de sangue ao redor do rosto dele. Aquele menino... ele era tão idiota... - Há um inimigo aqui. Não posso te deixar desprotegida por causa da minha impotência...

- É a sua culpa, essa catástrofe. Se... se você tivesse me dito que não estava bem, nós poderíamos ficar quietos aqui, você repousando...

- Nada iria mudar - ele me disse, sombrio - Nada nunca muda. A minha vida é assim.

Aquilo soou extremamente depressivo.

- Desculpa, hoje é o seu aniversario, eu não deveria...

- Haruka, não precisa se desculpar por isso... - eu me forcei a dar um sorriso. Aquilo de certa forma me matou por dentro, mas... - Eu... eu estou sempre dependendo de você. Agora que o Haruka precisa de mim... eu quero retribuir da melhor maneira que eu puder!

O menino me deu um sorriso amarelado.
- Você sempre exige muito de se mesma.

- Ah, cala a boca e dorme, seu idiota! - brinquei com ele, meio afetada. O ajeitei na cama, de forma que ele ficasse confortável. Aquilo de certa forma pareceu nostálgico, como se eu fizesse aquilo há muito tempo.

Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas ele já havia adormecido.

- Boa-noite - sussurrei, beijando a testa dele - Gatinho dorminhoco.



Eu havia trocado de roupa; agora vestia uma camisola por cima de uma calça legging. Alguém havia revirado a minha bolsa e meio que todas as camisetas que eu usava para dormir haviam desaparecido.

Aquilo realmente não importava muito. Os meus olhos estavam vermelhos e eu estava cansada demais até para ficar irritada.

Descendo a escada, vi o quarto onde Lyon e Momo estavam. Batendo de leve na porta, eu encarei o menino. Encostei de leve a cabeça na parede, levantando o pé machucado.
- Bebês? Do que vocês estão falando? - tentei fazer a minha voz no tom normal, mas parecia impossível - Enfim, Lyon... você se importaria de cozinhar o jantar? Eu não sei fazer nada que preste e... e Haruka...

Os meus olhos se encheram de lagrimas.
Eu piscava tão rapidamente para impedi-las de sair que os meus cílios formavam até uma brisa. Eu tentei respirar fundo para me acalmar.

- Desculpa. Parece que eu acabei interrompendo alguma coisa.
Com essas palavras, desci mais um lance da escada, lenta e vagarosamente. O meu pé latejava toda vez que eu tinha que pisar.

Talvez eu devesse ter voltado para o quarto e ficado com Haruka naquele momento.
Sim... tudo seria melhor se aquilo tivesse acontecido.

I laughed a bit

- Já voltou?

Ah, é mesmo.
Havia aquilo.

Meus olhos atentos encararam Lyon e, distraidamente, comecei a testar o meu pé no chão. A cozinha estava a minha direita e a porta de vidro que levava a praia e a floresta a esquerda. No sofá, onde o garoto estava sentando, havia a sacola que eu havia usado no dia na praia.

Se eu não tivesse machucado o meu pé antes, provavelmente conseguiria fugir ou dominar o garoto rapidamente. Pelo tipo físico, eu duvidava que ele era mais forte que Haruka quando ele estava sério, mas se tratando de monstros e descendentes, eu nunca podia relaxar.

Mesmo assim, nem a força bruta poderia ser comparada a...

- Quem é você, de verdade? - eu andava ligeiramente para a direita, tentando chegar o cozinha. O meu coração parecia prestes a explodir, a tensão se instalando em cada uma de minhas células.

Ah, aquilo seria divertido.
Adversários desconhecidos.
Inimigos vindos de dois lados, talvez.
Eu estava em obvia desvantagem.

- Diga! - a minha voz tremia um pouco. Eu esperava que ele farejasse o medo.

Eu nunca entenderei o conceito humano de "pânico".
Aquilo para mim era simplesmente uma brincadeira divertida que começava comigo atuando no papel de pessoa indefesa.



Ah...
Eu sou um idiota...

Eu quero estar com ela...
Por que eu nunca consigo ir atrás dela quando ela vai embora... ?

Hiyori, me desculpe...
Naquela vez...
Eu não pude estar com você...
Isso...
Isso tem que mudar...
Eu tenho que estar com aquela garota...

Então...
Por que isso está me impedindo?

Eu quero ir...
Por que isso está me impedindo?
Alguém...
Me responda...

Takane!

I laughed a bit

Eu consegui chegar lá um pouco depois do menino e tirei uma faca ligeiramente menor do mostruário de onde ele havia tirado a dele.

- O que foi, não me reconhece? - ele vagarosamente andou para o outro lado da cozinha e abriu a dispensa enquanto eu deslizava para o lado lentamente, observando o garoto - O que vai querer?

- Torta de maçã - a minha cara se abriu em um sorriso amarelo enquanto o meu coração batia tão rápido que parecia prestes a explodir. Na minha cabeça, eu examinava o garoto friamente, tentando me decidir o que fazer com a faca; golpe no joelho, corte a veia safena, ataque na região do rim e tente atingir a jugular. Corte a garganta...
Me lembrei de respirar.

- Sabe, eu sempre achei que o Lyon falasse em um tom de voz mais agudo - comecei a blefar da maneira mais convincente que eu conseguia. Os sintomas que ocorriam no meu corpo, imitando o medo, ocultariam qualquer traço restante em mim que mostrasse que aquilo fosse mentira - E que tivesse um padrão em forma de diamante ao redor da pupila dele, em um azul mais escuro. Que pena... acho que eu me enganei. Mas já que você é um grande alien pervertido, eu acho que não se importaria de me dizer o nome de meu pai, vocês se conhecem tão bem. Sabe...

Um pequeno sorriso sádico se apossou do meu rosto. Ele era sinistro, como o de um psicopata. Ao primeiro passo em falso que ele desse, eu arranjaria uma desculpa para mata-lo.

- Você é um verme que merece morrer, igual a ele - o meu rosto se livrou de qualquer emoção restante - Lyon, Lyon, Lyon... eu realmente quero te matar. Não importa se você é falso ou não; você tem uma arma e a sacou antes de mim. Qualquer coisa que eu faça é considerada legitima defesa. Agora... me diga... quem é você. Eu realmente não quero derramar um sangue sujo como o seu sem antes saber a quem ele pertence.

Eu me apoiei no meu pé e comecei a andar, distraída. Ignorando a dor, eu mantive a minha postura arrogante.

I laughed a bit

Eu consegui chegar lá um pouco depois do menino e tirei uma faca ligeiramente menor do mostruário de onde ele havia tirado a dele.

- Pequena Takane, por que alimenta tanto ódio por mim?

- Uma das pessoas que matou a minha mãe era Dantalian - comentei, triste. Eu começava a me lembrar de Haruka, de todas as vezes que ele ficara internado, e então comecei a chorar. Oculte a verdade; manipule a informação; use intimidação. Eu havia sobrevivido graças a aqueles três princípios. Usando memorias que despertavam emoções parecidas com as citadas e fatos que se assemelhavam aos narrados, eu podia disfarçar a minha mentira. Haruka havia me ensinado aquilo bem - E eu meio que tenho medo de você. Por exemplo... a anos, eu tento conseguir uma fusão com o clã Kokonose das kyuubis. A minha liberdade não estaria em risco se isso acontecesse. Mas se a família de meu pai considerar que os Pheles são um grande aliado em potencial e quiser firmar essa aliança com um casamento politico... bem, você já entendeu o risco que é para mim, não?

A minha face com um sorriso triste parecia tremular, como chamas. Distraída, eu comecei a brincar com a faca, a girando sobre o meu polegar.

- Sem contar que eu morro de inveja de você - comentei, de maneira animada. Por trás daquilo, havia um tom inquestionável de tristeza e instinto assassino. Algumas lagrimas rolavam pela minha bochecha - Provavelmente, se você me desse um decimo do que a sua família gasta todo o dia, seria o suficiente para eu sobreviver pela minha infância inteira. Eramos pobres, sabe? Quando eu era pequena, nunca dormi em uma cama de verdade ou comi comida de verdade. Agora... bem, eu tenho que correr pela a minha vida todos os dias. O meu provável assassino vai ser o meu pai. Minha mãe? Ela é a pessoa que eu mais adoro na vida, mas eu sequer sei como é o rosto dela. A única pessoa que eu amo nessa vida? Ela pode estar morta amanhã.

Uma risada quase sinistra escapou dos meus lábios.
Vamos, eu posso continuar o dia inteiro inventando desculpas para matar para você, mas já está cansando.

- Enquanto eu era odiada, você era amado - comentei, triste. Como humanos deveriam reagir? Não importava mais. Tudo era simplesmente um jogo, não? - Um dia, rasgaram o meu uniforme. Como punição, fui açoitada. Um pai deveria ser assim? Determinando o número de chibatadas que a sua filha deve receber? Bem, eu sempre achei que sim. Meus amigos foram mortos um a um. Posso dar a justificativa "oficial" do assassinato de cada um. E você? Você mesmo disse para Haruka que a sua vida foi bem fácil. Você era adorado, amado, mimado... enquanto isso, eu sequer sabia se estaria viva amanhã.

Parei de brincar com a faca e encarei o garoto, livre de qualquer sentimento ou piedade. Ele preparava a torta de maçã.

- Ponha sorvete no meu prato - instrui ele, como se estivesse fazendo um pedido a um garçom. Então, a minha voz se tornou fria - Vingança, medo e inveja. Tenho três ótimos motivos para justificar a minha vontade de ver o seu cadáver. Quer escolher um? Ou quer mais? De qualquer forma, Haruka te considera um amigo, então terei que repensar. Isso é realmente chato, sabia...

I laughed a bit

Eu consegui chegar lá um pouco depois do menino e tirei uma faca ligeiramente menor do mostruário de onde ele havia tirado a dele.

- E é só por causa disso que você quer me matar? - o garoto riu e eu devolvi o sorriso dele, inocentemente - Stalkeando minha vida desse jeito, acho até que você tem um amor secreto por mim.

- Na realidade, eu quero o máximo de distancia de você e de tudo que tenha a ver com o nome Pheles, mas Haruka me contou tudo isso. Ele é o verdadeiro stalker aqui - não era exatamente verdade. Haruka sabia tudo sobre todos os estudantes da Academia, basicamente. A sua lealdade não estava com Ai; qualquer pessoa daquele lugar era um possível inimigo.

- Mas convenhamos, se é pela inveja que você por mim que você quer me matar - eu ignorei o gesto do garoto enquanto ele abria a geladeira. Eu conseguia dizer o que uma pessoa pretendia apenas pela sua postura e se eu me movesse repentinamente, era bem capaz que ele me atacasse - Então eu já devia estar morto.

- Sinceramente, não preciso de mais um clã inteiro como inimigo - confessei, dando uma risada. Agora o clima parecia o de uma reunião entre dois amigos - E você viu, Haruka se interessa por Lyon Pheles. Além do mais, garotinho... ele acha que se eu te tiver como aliado, o clã Pheles vai seguir as suas ações.

Ele remexia a geladeira, em busca de um pote de sorvete.

- Eu nem te conhecia na época em que você me stalkeava, hehe - ele riu por longos minutos.

- Pheles, pare de me ignorar, por favor - pedi, como se lhe mandasse passar alguma coisa que estava longe de mim. Suspirei. Idiota.
Então ele não se lembrava de nós dois, dois anos atrás? Bem... havia sido uma confusão bem grande. Eu não havia esquecido daquilo. Então...

- A vida é boa para alguns, ruim para outros...

- Me passa uma colher e a droga desse pote de sorvete! - gritei para ele, a mão na faca.
E na minha frente, estava o impostor.

I laughed a bit

Não havia como respirar.
Sem aguentar ficar com o liquido na boca e sem conseguir cuspi-lo, eu tive que engoli-lo.

O medo que eu havia esquecido se apossou de mim.
Enquanto isso, uma dormência razoável começou a se apossar de meu corpo.

Ah... eu era uma grande idiota.
Mesmo quando eu tinha que perceber alguma coisa relativamente simples, aquilo demorava tempo demais para ser visto.

Era aquilo.
Eu séria assassinada.
Depois, ele iria para Momo, Lyon e... e...

A ambiguidade daquilo era muita para mim.
O fraco Haruka, dormindo tranquilamente em seu quarto.

Por que eu escutara Lyon?
Por que eu não o esperara?
Por que não havia ficado com Haruka?

No fundo da minha mente drogada e dopada, eu repetia incansavelmente aquela mesma frase.
De alguma forma, o meu corpo imobilizado a repetiu em algo que era menos que um murmurio.

- Haruka... me salve...
Uma lagrima solitária percorreu o meu rosto.

Era aquilo. Eu havia perdido. Game-over.
Nos vemos de novo algum dia.

Foi naquele instante que, brilhando e refletindo a luz da lua, eu vi a sakura flutuando no ar.
Ela se multiplicou, fazendo algo com o formato parecido com o de uma lança; está se cravou no ombro do falso Lyon.

Um garoto vestindo uma capa carmesim e de belos cabelos brancos, como a neve, apareceu logo na minha frente. Ele tinha a espada apontada para o duplo.

- Atacando a minha mestra enquanto eu estou debaixo desse teto - a voz dele era tão carregada de desprezo, de sede de sangue, que era dificil acreditar que a poucos minutos eu o havia chamado de "gatinho dorminhoco". Uma raiva fria emanava de Haruka e eu não acreditaria que eram a mesma pessoa caso eu não o conhecesse bem - Você deve ser muito corajoso. Ou muito estupido.

O falso Lyon estava passando por um momento de confusão. Quem era aquele garoto de olhos vermelhos, segurando aquela espada imponente?
Sem abaixar a espada ou tirar os olhos do duplo, ele tirou a capa e a jogou em cima de mim.

- Takane, vire uma shinigami e saia daqui - ele me ordenou. De algum jeito, eu comecei a sair do torpor que rondava o meu corpo. Aquela palavras... ah, então eu tinha que entrar "naquele" modo... - Infelizmente, eu não posso ter o luxo de derramar sangue na sua frente.

Parou de fazer frio e calor.
Eu não sabia dizer mais nada. Eu sentia o tecido tocar a minha pele, mas não descreve-lo perfeitamente.

O senso de dor e a dormência me abandonaram.
Eu me sentia totalmente acordada.

Me cobrindo com a capa, eu tinha um único desejo;
Quero sair daqui, sem ser notada.

E então, meu corpo ficou invisível. Era aquele o poder da capa.

Correndo em direção a porta, eu sai e disparei em direção a floresta.

- E então... como você quer ser morto?

I laughed a bit

- Acha que vai conseguir me parar com essas florezinhas?

- Oh, não - aquela voz, desprovida de sentimentos, daria medo até a mais valente das almas. Haruka simplesmente encarava o garoto, a espada apontada para o seu peito. A lâmina era tão fina a ponto de passar entre duas costelas, mas tão resistente que um dinossauro poderia pisar nela e ela não entortaria - Eu saquei a minha espada. Não posso brincar com lixos como você.

Havia uma entoação perigosa na voz dele.
Sem demonstrar qualquer emoção ou hesitação, em um gesto sem quaisquer movimentos desnecessários, Haruka enfiou a lâmina no peito do impostor.

Mesmo que ele tentasse desviar, a katana o atingiria.
O sangue do inimigo espirrou no guardião e no chão ao redor.

Ao mesmo tempo, uma dormência razoável se apossou do corpo do pseudo-Lyon. Em um intervalo de milésimos, porém, ele caiu no chão, totalmente paralisado.

- Há uma grande desvantagem em imitar um humano; os seus órgãos passam a ser iguais aos nossos - ele provocou, cortando a garganta do imitador - Nossos movimentos nada mais são que vários pulsos elétricos emitidos pelo corpo. Com o poder de Harusame, posso bagunça-los como quiser.

I laughed a bit

Haruka continuava a encarar o corpo, peguntando-se onde ele sentiria mais dor sem desmaiar ou morrer pela perda de sangue. Com certeza, faria aquele bastardo ter desejado nunca ter nascido ou, se ele tivesse um pouco de bom-senso, que ele não estivesse nascido.

- Oe! Haruka! O que você está fazendo... comigo?

Ele não precisou desviar o olhar para saber quem estava questionando. Meio incerto se teria os efeitos desejados, ele enfiou a espada na articulação do joelho. O impostor gemeu de dor e ele pareceu desapontado.

- Provavelmente esquarteja-lo até perder a consciência e depois vou mata-lo - o garoto de cabelos prateados respondeu, sem nenhuma emoção na voz. Mesmo assim, poderia-se notar traços de sadismo - Quer tentar? É divertido... provavelmente.


Ela continuava acordada, mas a sua respiração era dificil.
Diversos espasmos percorriam o seu corpo paralelo ao chão, sua cara encostada suavemente contra as folhas.

Depois de correr por cerca de cinco minutos floresta a dentro, a combinação daqueles dois fatores fora suficiente para derruba-la.

Deitada sobre a sua capa, todos poderiam vê-la.
Ela se sentia exposta, vulnerável.

O medo que a garota havia conhecido voltava lentamente para a sua mente.
Mesmo assim, ela continuava a repetir aquelas mesmas palavras.

Uma dormência razoável começou a tomar conta de seu corpo.
Uma lagrima solitária escorreu pelo o seu rosto.

Certamente, eu não irei esquecer...

I laughed a bit